sábado, 30 de junho de 2012


É preciso ser forte

Ouço o som distante do despertador, é, mais um dia. O arrependimento por ter colocado minha música preferida do Oasis me bate, não suporto mais escutá-la. Me sento na cama e olho para o travesseiro ao lado: vazio. Mais um dia, mais um dia sem ele. Sabe, às vezes eu sou mesmo forte e o tempo vai mesmo me fazer esquecê-lo; mas no momento tudo que faço me lembra ele - até mesmo o simples ato de acordar.

Vou para o banheiro e ao me olhar no espelho não reconheço o que vejo: no que me tornei? Que estátua de gelo é essa? Aos olhos de outras pessoas estou impassível, feliz e normal como sempre fui. Aos meus olhos? Estou acabada, destruída, com saudades. Obrigada a todos esses anos treinando uma armadura de rainha do gelo, deve estar dando certo.

Coloco a minha calça jeans preferida e aquela regata branca que ele tanto gostava. Ao fechar a porta de casa olho para trás e percebo o quão vazia ela é; ninguém para dar um adeus. Bem, que seja. Ando na rua e observo as pessoas, sempre tão apressadas e cheias de compromissos. Será que estão indo almoçar com alguém especial? Será que estão indo a uma reunião de negócios? Será que estão tomando decisões das quais não poderão voltar atrás? Decisões... Não gosto de decisões. Decisões me lembram términos, términos me lembram ele. 

Chego no trabalho e estampo meu melhor sorriso; conto piadas e comento sobre a novela do dia anterior. Assuntos banais, é disso que as pessoas gostam. Falar sobre a gravidez inesperada daquela atriz famosa pode ser uma distração para o que realmente estou sentindo; e dá certo. Ninguém nota o quanto estou destruída, ninguém percebe quantas vezes disquei o número dele e desisti logo em seguida, ninguém percebe que enxergo o rosto dele - tão familiar e tão distante - em todos os rostos que vejo. Tomo uma xícara de café pois sei que vou precisar disso para me manter acordada, uma vez que deitar na cama não significa mais o descanso do dia, e sim a hora de chorar sem que ninguém me veja.

Veja bem, não sou fraca. Me mantive forte e resistente pois em momento algum liguei para ele e disse o quanto sinto saudades. Não chorei com minhas amigas e nem enchi a cara brindando ao canalha que partiu meu coração... Mas ninguém é assim tão forte. Preciso desabafar com alguém, e esse alguém é meu travesseiro. Não quero que ele volte, sei que nunca daria certo e que os problemas que viriam em seguida me machucariam muito mais. É apenas saudade, é apenas vontade.


Despeço dos meus colegas de trabalho e pego o caminho para casa. Furo sinais sem perceber e quando quase atropelo uma senhora me dou conta que estive dirigindo sem rumo por um bom tempo. Sem rumo... Que saudade da época em que planejávamos sair sem rumo pelo mundo, viajando com uma Kombi antiga e absorvendo o que cada vilarejo tinha para nos oferecer. Deitar na grama para apreciar a lua, pular no mar durante a noite e correr que nem duas crianças pela praia. Éramos mesmo imbatíveis. Aonde foi que deixamos isso escapar? Em que momento deixamos de ser invencíveis? Não consigo me lembrar, e se me lembrasse, construiria uma máquina do tempo para poder consertar tudo.

É, em casa novamente. As paredes brancas, o sofá gelado e a cama vazia. Preciso aceitar que términos são novos começos e que talvez eu ache alguém tão ou mais incrível do que ele. Mas eu não aceito, me recuso a aceitar. Ninguém nunca vai ter o mesmo sorriso, o mesmo cheirinho e o mesmo jeito de dizer que me ama no ouvido. Mas repito para mim mesma "Você é forte". Eu sou forte, eu vou superar. Mas no momento quero me deixem... Afinal, é preciso cair de cara no chão e aprender a se levantar sozinha. Hoje estou no chão, fraca e machucada. Mas esperem só o dia que eu me levantar...

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